O Dia Internacional da Mulher é uma data significativa para refletirmos sobre as conquistas, as lutas e as contribuições das mulheres ao longo da história. Em um mundo onde o espaço feminino foi, durante muito tempo, restringido e desvalorizado, a área da informação se destaca como um exemplo de resiliência e superação. Mulheres de diversas partes do mundo, em áreas como biblioteconomia, arquivologia, gestão de documentos e dados, enfrentaram barreiras imensas para garantir seu espaço e reconhecimento no mercado de trabalho, transformando suas respectivas áreas de atuação e criando legados que perduram até hoje.
A Luta das Mulheres por Espaço e Reconhecimento
A presença das mulheres na área da informação sempre foi marcada por desafios. Desde o início da organização e sistematização da informação, as mulheres precisaram lutar contra estigmas que as relegavam a papéis secundários. Durante muito tempo, foram vistas como auxiliares ou assistentes, enquanto os cargos de liderança eram ocupados por homens. Esse cenário começou a mudar quando as mulheres, com suas habilidades e dedicação, conquistaram um lugar de destaque nas bibliotecas, arquivos e centros de documentação, transformando a forma como lidamos com o conhecimento.
A luta por reconhecimento no campo da informação sempre foi também uma luta por igualdade. As mulheres enfrentaram uma dualidade: ao mesmo tempo em que precisavam demonstrar competência em áreas altamente técnicas, como a organização de arquivos e a gestão de sistemas de informação, ainda eram constantemente desvalorizadas por seu gênero. A falta de espaços para a ascensão a cargos de liderança, a escassez de apoio institucional e o preconceito sistemático foram barreiras que precisaram ser superadas, mas que, com o tempo, começaram a ser desafiadas por essas mulheres pioneiras.
As Conquistas e Avanços das Mulheres
Apesar das dificuldades, as mulheres não só conquistaram seu espaço nas áreas da informação como também trouxeram transformações significativas para essas profissões. Elas foram responsáveis por inovações em métodos de catalogação, organização de arquivos e até na implementação de sistemas digitais que tornaram a informação mais acessível e democrática. Além disso, elas desempenharam papéis fundamentais na preservação do patrimônio histórico, na digitalização de acervos e na construção de políticas públicas para o acesso à informação.
A presença feminina na área da informação também foi crucial para o desenvolvimento de sistemas que hoje são essenciais para a gestão de dados e informações. Por muito tempo, a tecnologia foi vista como um campo predominantemente masculino, mas as mulheres enfrentaram essa divisão de gênero com coragem e competência, conquistando seu espaço no desenvolvimento de soluções tecnológicas para a gestão do conhecimento.
A Luta por Igualdade e Empoderamento
Embora as mulheres tenham conquistado muito ao longo da história, a luta por igualdade no mercado de trabalho, especialmente nas áreas da informação, ainda é um desafio. Mulheres continuam a lutar por salários justos, condições de trabalho adequadas e a valorização de suas habilidades. A representação feminina em cargos de liderança é uma das principais questões em discussão atualmente, e muitas mulheres estão à frente de movimentos e iniciativas que visam garantir que o trabalho delas seja reconhecido em pé de igualdade com os dos homens.
Além disso, as mulheres têm sido protagonistas de uma importante discussão sobre a necessidade de inclusão no acesso à informação, combatendo a desigualdade no acesso a tecnologias e promovendo a educação digital como uma ferramenta de empoderamento. Elas se destacam em projetos que visam democratizar o conhecimento e garantir que todos, independentemente de gênero, classe social ou etnia, tenham o direito ao acesso à informação.
A Homenagem às Mulheres na História da Informação
Neste Dia Internacional da Mulher, é fundamental reconhecer a contribuição das mulheres para a área da informação e celebrar suas vitórias. Essas mulheres não apenas desbravaram um campo onde sua presença era limitada, mas também abriram portas para as gerações seguintes. Hoje, elas são referências e fontes de inspiração para aquelas que desejam seguir seus passos e continuar a luta por um espaço mais igualitário no mundo da informação.
É importante também recordar que as lutas das mulheres não se restringem ao passado, mas continuam no presente. Elas continuam a se destacar nas mais diversas áreas da informação, desde a biblioteconomia até a gestão de dados, e estão construindo um futuro mais inclusivo, justo e acessível para todas as pessoas.
O papel de Mariza Cardoso na Redata
Neste contexto de celebração do Dia Internacional da Mulher, é impossível deixar de mencionar a importância da Redata e a liderança de Mariza Cardoso. Há 37 anos, Mariza está à frente da Redata, uma empresa que se consolidou como referência em gestão de metadados e organização da informação, desempenhando papel crucial na preservação e no acesso ao conhecimento registrado.
Sob sua direção, a Redata não só inovou e transformou a gestão da informação nas empresas em que passou, mas também foi um exemplo de valorização do trabalho feminino no setor. Mariza sempre se destacou pela visão estratégica e pela dedicação, criando um ambiente em que o talento feminino é reconhecido e incentivado. Sua trajetória é um reflexo do que significa ser uma mulher que desbrava barreiras e lidera com competência e humanidade.
Além disso, a Redata sempre foi um espaço de acolhimento para outras mulheres, que também desempenharam papéis de destaque e fizeram a diferença na história da empresa. Elas ajudaram a construir o legado da Redata e continuam a ser parte importante dessa história de sucesso. A contribuição delas também merece ser lembrada e celebrada, pois juntas, todas essas mulheres ajudaram a escrever a história da Redata e do campo da informação no Brasil.
As Mulheres que Transformaram a História da Informação
A seguir, destacamos algumas das mulheres mais importantes na história da área da informação. Cada uma delas, com sua trajetória única, desafiou normas, conquistou espaços e foi fundamental para o avanço e desenvolvimento da gestão da informação. Elas são verdadeiras pioneiras que, com suas lutas e conquistas, deixaram um legado de transformação, coragem e inovação.
- Abigail Lisboa de Oliveira Carvalho (1937 – 2006): Bibliotecária e professora brasileira, Abigail Lisboa de Oliveira Carvalho foi diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e diretora de Avaliação da Capes. Guardiã do acervo da poeta Henriqueta Lisboa, de quem era sobrinha, doou-o em nome da família ao Centro de Estudos Literários da UFMG para a constituição do Acervo de Escritores Mineiros, iniciando assim a coleção que hoje contém, ainda, os acervos de Abgar Renault, Cyro dos Anjos, Murilo Rubião e Oswaldo França Júnior. (Saiba mais em: UFMG)
- Ana Maria Camargo (1945 – 2023): Historiadora e arquivista brasileira, Ana Maria de Almeida Camargo foi professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e é considerada uma referência da arquivologia brasileira, em especial por conta de sua pesquisa sobre a violação aos direitos humanos na ditadura civil-militar brasileira. (Saiba mais em: Revista Arquivística Brasileira)
- Carla Hayden (1952 – presente): Bibliotecária doutora, Carla Hayden é a 14ª bibliotecária do Congresso dos Estados Unidos (Library of Congress – LOC). Desde sua criação em 1802, Hayden é a primeira mulher afro-americana a ocupar o cargo. Também foi presidente da Enoch Pratt Free Library e presidente da American Library Association (ALA). (Saiba mais em: ACBSC)
- Célia Zaher (1931 – presente): Bibliotecária e advogada, Célia Ribeiro Zaher é doutora em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em Library Science pela Columbia University e graduada em Biblioteconomia pela Biblioteca Nacional. Foi professora do Curso de Documentação Científica do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), o antigo Ibict. A professora também foi presidente do IBBD, além de diretora da Biblioteca Nacional e diretora do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME). (Saiba mais em: IBICT)
- Clara Stanton Jones (1913 – 2012): Bibliotecária, Clara Staton Jones foi a primeira afro-americana e a primeira mulher a servir como diretora de um grande sistema de bibliotecas na América, como diretora da Biblioteca Pública de Detroit. Também foi a primeira presidente afro-americana da American Library Association (ALA) e recebeu o título de Membro Honorário da Associação Americana de Bibliotecas. (Saiba mais em: UMSI)
- Dorothy B. Porter (1905 – 1995): Dorothy B. Porter foi uma bibliotecária e curadora americana que transformou o Moorland-Spingarn Research Center na Universidade Howard, criando um centro de excelência na documentação da diáspora africana. Sua contribuição foi crucial para a preservação da história afro-americana e para a ampliação do conhecimento sobre as experiências dos afrodescendentes. (Saiba mais em: IBICT)
- Henriette Avram (1919 – 2006): Henriette Avram foi a criadora do formato MARC (Machine-Readable Cataloging), que revolucionou a catalogação mundial e a padronização internacional de dados bibliográficos. Sua invenção tornou possível a automação das bibliotecas, facilitando a troca de dados bibliográficos e promovendo maior eficiência na organização do conhecimento. (Saiba mais em: Medium)
- Heloísa Bellotto (1935 – 2023): Bibliotecária e historiadora, Heloísa Liberalli Bellotto foi responsável pela instalação do Arquivo do IEB. Especializou-se em Arquivologia na Espanha e criou o Curso de Organização de Arquivos do IEB. Sua atuação pioneira apoiou a criação e consolidação de cursos por todo o território brasileiro, além de como consultora ter atuado em dezenas de instituições arquivísticas. (Saiba mais em: IEB)
- Jannice Monte-Mór (1927 – 2005): Jannice Monte-Mór foi a primeira bibliotecária a assumir a direção da Biblioteca Nacional (BN). Também foi bibliotecária do Grupo de Estudo para Integração de Política de Transportes do Ministério dos Transportes; bibliotecária da Fundação Getúlio Vargas; professora assistente de Catalogação e Classificação dos Cursos da Biblioteca Nacional; diretora da Divisão de Bibliotecas e Documentação do Estado de Guanabara. (Saiba mais em: Biblioo)
- Laura Russo (1915 – 2001): Bibliotecária, Laura Garcia Moreno Russo foi uma das responsáveis pela regulamentação da profissão de bibliotecário e também pela fundação da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB), sendo sua primeira presidente. Presidiu também o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB). Como bibliotecária, trabalhou na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na Academia Paulista de Letras e foi diretora da Biblioteca Mário de Andrade. (Saiba mais em: Santa Biblioteconomia)
- Lydia de Queiroz Sambaquy (1913 – 2006): Bibliotecária, Lydia de Queiroz Sambaquy foi a fundadora e presidente do antigo Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD) hoje conhecido como Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Também foi vice-presidente eleita da Federação Internacional de Documentação e logo em seguida destacada como membro honorário desta mesma instituição. (Saiba mais em: Biblioo)
- Maria Aparecida Moura (19– – presente): Primeira professora negra titular da UFMG e bibliotecária, Maria Aparecida Moura articula comunicação e sistemas de organização para recuperação de memórias sociais e produção de conhecimentos. É responsável pela coordenação do Núcleo de Estudos das Mediações e Usos Sociais dos Saberes e Informações em Ambientes Digitais (NEMUSAD) e o Museu virtual – Saberes Plurais e o Laboratório de Culturas e Humanidades digitais (LabCult). (Saiba mais em: OpenCiência)
- Maria Aparecida Gomes de Moura (1922 – 2012): Bibliotecária, Maria Apareecida Gomes de Moura ingressou no IBGE, na Inspetoria Regional de São Paulo, no Setor de Estatística. Foi transferida para o Serviço de Estatística do Rio de Janeiro, sede do IBGE. Foi responsável pela reorganização e chefia da Biblioteca da Secretaria-Geral do Conselho Nacional de Estatística. Ocupou, ainda, o cargo de chefe do Setor de Documentação da Delegacia de Estatística em São Paulo. (Saiba mais em: IBGE)
- Tainá Batista de Assis (1970 – presente): Doutora em Ciência da Informação e da Comunicação, Tainá Batista de Assis é presidente do Conselho Administrativo da Rede ISSN. Atua como pesquisadora em projetos de pesquisas no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). Também participa do Document Delivery and Resource Sharing Section da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) como membro eleita.
Para encerrar…
As mulheres desempenharam um papel crucial na construção da área da informação e continuam a ser agentes de mudança, inovação e empoderamento. O reconhecimento de suas contribuições é um passo importante para garantir que sua história não seja esquecida. No Dia Internacional da Mulher, celebramos essas mulheres, suas lutas e vitórias, e nos comprometemos a continuar a apoiar a igualdade de oportunidades, representação e valorização de suas realizações.